O famoso CBD, ou canabidiol, é um dos componentes mais conhecidos da maconha. Enquanto o THC ainda ocupa o primeiro lugar em popularidade devido à suas propriedades psicoativas responsáveis pelo barato, o CBD tem ganhado cada vez mais presença na mídia, nos consultórios médicos, nos laboratórios, e no debate sobre a planta. Isso se deve ao valor medicinal do canabinoide, que ficou conhecido por auxiliar no tratamento da epilepsia e outras doenças. Nesse artigo, debateremos as seguintes questões:
O CBD é um canabinoide que, assim como o THC, se liga aos receptores de canabinoides espalhados pelo corpo humano, conhecidos como CB1 e CB2.
Clique aqui para saber mais sobre o sistema endocanabinoide.
Diferente
do THC, contudo, o Canabidiol não é psicoativo, ou seja, ele não causa o famoso
“barato”. O CBD contrapõe alguns dos efeitos do THC, interagindo diretamente
com ele. Pacientes informam que com o THC usado isoladamente, como na forma de
dronabinol (THC sintético), os efeitos psicoativos são muito fortes, podendo
causar paranoia, tontura e outros efeitos desagradáveis.
Em conjunto com o Canabidiol, contudo, esses efeitos negativos do THC são
suavizados, enquanto seus efeitos medicinais permanecem os mesmos ou aumentam.
Outros componentes da cannabis também interagem dessa maneira. O CBD,
entretanto, é mais abundante, perdendo somente para o THC na maioria das cepas
da planta.
O CBD possui um efeito sedativo. Plantas com alto teor tendem a causar mais sono e relaxamento quando consumidas. Esse efeito também é acentuado dependo da forma de preparação do extrato. Para entender melhor como a descarboxilação pode ser realizada para enfatizar o papel do CBD no extrato, clique no link a seguir.
A importância da descarboxilação no preparo de alimentos com cannabis
O CBD ficou conhecido por sua associação com o tratamento da epilepsia. Quando diversos casos de crianças sendo tratadas com extratos de cannabis começaram a aparecer em 2014, cada vez mais a palavra CBD era utilizada na mídia. Numa tentativa de desvencilhar o Canabidiol da maconha, o componente foi mencionado dezenas de vezes como se fosse o único canabinoide que pudesse tratar doenças.
De fato, o CBD foi estudado como um potencial neuroprotetor. O componente parece proteger células nervosas de se superexcitarem – processo que ocorre naturalmente em pessoas saudáveis, mas em excesso na epilepsia, causando as características convulsões e espasmos. Outros canabinoides, contudo – como o próprio THC – também possuem efeito neuroprotetor. É possível que esses componentes ajam em conjunto com o Canabidiol para a tratar a epilepsia.
O CBD isolado está sendo testado como tratamento para a epilepsia de difícil tratamento, mas ainda não há evidências suficientes de sua eficácia, bem como a planta em sua forma natural. Relatos de centenas de famílias, contudo, demonstram resultados impressionantes. Em todos esses casos, ele não foi utilizado isoladamente, mas em conjunto com outros componentes.
O CBD parece ter propriedades anti-inflamatórias, demonstrando potencial para o tratamento de diversas doenças inflamatórias, como a artrite reumatoide, a esclerose múltipla, a doença de Crohn, diabetes tipo 1, entre muitas outras.
Esse efeito foi observado tanto com o Canabidiol isolado como em sua forma natural (maconha rica em CBD). Um estudo comparando a eficácias das duas formas, contudo, concluiu que a cepa de cannabis rica em CBD é um anti-inflamatório superior ao CBD isolado.
Mais estudos são necessários para determinar a eficácia do Canabidiol como um anti-inflamatório.
Diferente do THC, o CBD isolado não possui efeito analgésico. Utilizado em conjunto com o THC, contudo, ele parece potencializar os efeitos do THC no combate à dor crônica, sobretudo a dor neuropática (comum em pacientes com câncer ou AIDS, por exemplo). Ao que tudo indica, o CBD e o THC em conjunto são mais eficazes do que o THC isolado no tratamento da dor.
É importante salientar que dosagens altas de THC causam aumento na sensação de dor, enquanto dosagens mais baixas tendem a diminuir a dor. É importante, portanto, encontrar a dosagem adequada para o tratamento em questão, inclusive o equilíbrio entre o THC e o CBD, que varia entre diferentes cepas da maconha. Pesquisadores explicam que a cannabis não bloqueia a dor como opiáceos, por exemplo. Ela parece simplesmente aumentar a capacidade do usuário em tolerar a dor.
Com abundante evidência envolvendo o uso da cannabis no tratamento da dor, a planta já é aceita como um analgésico pela medicina tradicional. Em estados americanos onde o uso medicinal da cannabis foi legalizado, as vendas de analgésicos a base de opiáceos caiu consideravelmente, indicando uma preferência pela cannabis por parte de muitos pacientes.
Enquanto o THC pode desencadear efeitos psicóticos em pessoas com sensibilidade a seus efeitos; ou em pessoas que já sofrem ou sofrerão algum tipo de psicose (como a esquizofrenia), o CBD tem efeito antipsicótico. Diversas pesquisas indicaram esse efeito, inclusive estudos realizados no Brasil, na USP de Ribeirão Preto.
Não há ainda, contudo, estudos clínicos amplos para determinar a eficácia do Canabidiol nesse sentido. Os poucos estudos realizados em humanos utilizaram a substância isolada. Há apenas relatos de pacientes sobre o uso da cannabis in natura no tratamento de psicose. Como não sabemos a segurança do uso da maconha em pacientes psicóticos, não é recomendado o uso, mesmo de plantas ricas em CBD e com baixo teor de THC
Pesquisas com pacientes que automedicam com cannabis identificaram um alto número de pessoas utilizando a erva para tratar problemas psiquiátricos; com ou sem acompanhamento médico. Uma pesquisa realizada na Califórnia, em 1999, identificou 660 (26,6%) pacientes automedicando problemas psiquiátricos com cannabis. Entre eles, 274 sofriam de stress pós-traumático; 162 de depressão; 73 de ansiedade; 46 de depressão neurótica; 34 de desordem bipolar; 26 de esquizofrenia; 15 de déficit de atenção; 8 de distúrbio obsessivo-compulsivo; 5 de síndrome do pânico; 17 de outras enfermidades.
O efeito sedativo do Canabidiol parece acalmar pacientes psiquiátricos, mas os efeitos da cannabis por inteira estão obscurecidos pela falta de estudos. O sistema endocanabinoide parece estar diretamente ligado ao funcionamento do cérebro. Ao bloquear receptores de canabinoides, cientistas observaram que pacientes entravam em depressão e tinham pensamentos suicidas. O bom funcionamento do sistema endocanabinoide, portanto, deve estar associado a um cérebro saudável, o que indica um forte potencial da cannabis no tratamento de distúrbios psiquiátricos.
Conforme mencionado anteriormente, mais estudos são necessários para determinar a eficácia e segurança da maconha nesses casos. É importante, portanto, ter muito cuidado e somente se medicar com acompanhamento médico.
Em diversos estudos pré-clínicos (em laboratório ou em animais, não em humanos), o CBD demonstrou forte potencial no tratamento de diferentes tipos de câncer. Centenas de estudos demonstram efeitos antitumorais e anticancerígenos por parte do Canabidiol isolado. Estudos em humanos, contudo, são necessários para determinar se o CBD realmente pode ser utilizado nesse tratamento.
O CBD é um componente com impressionante potencial terapêutico, sendo cogitado em diversos tratamentos, como o mal de Parkinson, insônia, espasmos musculares, entre diversas outras enfermidades.
Faltam investimentos em estudos, não somente com o CBD, mas com a cannabis como um todo, já que diversos de seus componentes parecem agir no organismo e até potencializar os efeitos terapêuticos uns dos outros. Apesar da grande atenção que o CBD tem recebido, é preciso lembrar que ele é apenas um componente, dentre diversos outros presentes na planta, e ele nem é o mais estudado.
Mais conhecimento sobre esse e outros componentes pode significar uma expansão na compreensão da biologia humana e um passo à frente no tratamento de dezenas de enfermidades. Quanto mais soubermos sobre o CBD e a cannabis, mais podemos avançar na luta pelo direito à vida e ao tratamento de escolha de pacientes-usuários.
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